A vasectomia é definitivamente um dos principais procedimentos da prática urológica, sem dúvida alguma, trata-se de um dos principais motivadores de procura ao urologista. A vasectomia é um procedimento cirúrgico de pequeno porte, simples e rápido. Pode ser realizada em hospital ou ambulatorialmente, em clínicas médicas. Habitualmente, é realizada com anestesia local, com a opção de se incluir sedação para maior conforto.
O objetivo da vasectomia é tornar o líquido ejaculado livre de espermatozoides a partir do bloqueio dos canais que levam espermatozoides dos testículos até
a região da próstata (os ductos deferentes). Dessa forma, quem busca realizar a vasectomia quer um método contraceptivo definitivo, que evitará permanentemente a saída de espermatozoides pelo ejaculado. Os espermatozoides continuarão a ser produzidos normalmente, mas serão reabsorvidos pelo corpo sem que consigam progredir. O fluido seminal continua a ser produzido normalmente, ficando apenas sem espermatozoides.
Com relação à eficácia, a vasectomia é o método com menor possibilidade de falha. A chance de sucesso é superior 99,85%, superando a taxa de sucesso de métodos como a laqueadura, o DIU, a pílula anticoncepcional, as injeções e todos os métodos de barreira. Dessa forma, a vasectomia deverá ser escolhida por homens que busquem contracepção definitiva e eficaz. Vale mencionar que, atualmente, com emprego de técnicas corretas, a vasectomia pode ser revertida por meio de microcirurgia e com grandes taxas de sucesso. Alternativamente, caso o paciente queira gestações após a vasectomia e não haja desejo ou possibilidade de reversão da vasectomia, espermatozoides podem ser capturados cirurgicamente para serem utilizados em técnicas de reprodução assistida (TRA). Vale ressaltar que essa modalidade exige, necessariamente, a aplicação de TRA, geralmente, mediante fertilização in vitro para ser factível. No entanto a melhor forma de um homem preservar sua fertilidade antes da realização da vasectomia é por meio de criopreservação (congelamento) seminal, que pode ser realizada antes de qualquer situação na qual se preveja que a fertilidade masculina será reduzida. Esse recurso é muito utilizado por pacientes que receberão tratamentos oncológicos e desejam preservar sua fertilidade.Para isso, antes da realização da vasectomia, algumas coletas (em geral 2 ou 3) seminais podem ser realizadas com esse intuito.
Fonte da imagem: U.S. Selected Practice Recommendations for Contraceptive Use, 2013. Adapted from the World Health Organization Selected Practice Recommendations for Contraceptive Use, 2nd Edition. MMWR – Morbidity and Mortality Weekly Report – CDC – Center for Disease Controle and Prevention. Recommendations and Reports. Vol. 62 (5) June 21, 2013. Disponível em: http://www.cdc.gov/mmwr/pdf/rr/rr6205.pdf
Como é realizada a vasectomia?
O procedimento é realizado com o paciente deitado, necessariamente, sob anestesia local. Muitos homens preferem permanecer sedados para terem maior conforto. Essa opção é individual e pode sempre ser escolhida, sem maiores problemas. Pessoalmente, recomendo sedação sempre.
A seguir, localiza-se o ducto deferente a partir da palpação. Realiza-se mínimas incisões, de cerca de 5mm, na própria pele do escroto, expondo o canal.
Fonte: Shergill I, et al. Surgery Illustrated – Surgical Atlas – Vasectomy illustrated. BJU Int. 2012, 10 9 , 1116–1127.
Com instrumentos específicos, isola-se apenas o ducto deferente. Dessa forma, previnem-se inchaços e desconforto no pós-operatório.
Fonte: Shergill I, et al. Surgery Illustrated – Surgical Atlas – Vasectomy illustrated. BJU Int. 2012, 10 9 , 1116–1127.
A seguir, secciona-se o canal e aplicam-se pontos de sutura para ocluir as duas “bocas”. Particularmente, não realizo retirada de segmentos e nenhum tipo de cauterização no interior dos canais. Essa medida preserva a integridade das estruturas, caso uma reversão de vasectomia seja, um dia, necessária.
Fonte: Shergill I, et al. Surgery Illustrated – Surgical Atlas – Vasectomy illustrated. BJU Int. 2012, 10 9 , 1116–1127.
Por fim, realiza-se uma série de suturas adicionais, assim, reduzindo qualquer tipo de risco de passagem de espermatozoides.
Fonte: Shergill I, et al. Surgery Illustrated – Surgical Atlas – Vasectomy illustrated. BJU Int. 2012, 10 9 , 1116–1127.
As incisões são fechadas com fios absorvíveis, que cairão sozinhos após cerca de 20 dias. Não é necessária a retirada de pontos.
Fonte: Shergill I, et al. Surgery Illustrated – Surgical Atlas – Vasectomy illustrated. BJU Int. 2012, 10 9 , 1116–1127.
Pode haver algum efeito colateral após a vasectomia?
A recuperação é rápida, com possibilidade de retorno às atividades diárias e profissionais em 24-48 horas. Não há nenhum tipo de interferência na qualidade de vida sexual por conta da vasectomia. Hormônios, quantidade de sêmen, orgasmo e potência permanecem rigorosamente iguais. Não há nenhum tipo de aumento de riscos de doenças prostáticas ou urológicas, pois o procedimento é considerado completamente seguro.
Alguns eventos podem ocorrer com certa frequência, principalmente nos primeiros dias, são os chamados efeitos colaterais imediatos. É muito comum ocorrer drenagem de pequena quantidade de secreção aquosa pelas incisões nas primeiras 72 horas. Os curativos colocados após o procedimento se encarregam de absorver essa pequena quantidade de fluidos, sem problemas. Desconforto na região pode ocorrer nas primeiras 24-48 horas. É exatamente o tempo sugerido para repouso, a partir do qual já se pode retornar ao trabalho. É muito comum notarmos a presença de um hematoma na região do escroto. A pele fica arroxeada durante cerca de 5 dias e essa coloração vai gradualmente progredindo para o amarelado até desaparecer. Esse hematoma é tipicamente indolor e não provoca problema. A atividade sexual pode ser restabelecida após 1 semana; e exercícios físicos, em geral, podem ser retomados após 10-15 dias. Complicações raras (~1%) incluem hematomas maiores e inflamação no local das incisões, assim, exigindo cuidados individuais.
Sobre os cuidados com relação à prevenção de gravidez, é importante manter métodos contraceptivos nas primeiras semanas pós-vasectomia. Em geral, recomendam-se 20 a 30 ejaculações ou 2 a 3 meses de cuidados até que qualquer espermatozoide residual seja eliminado do trajeto. Esse cuidado garante o sucesso e não costuma impor nenhum tipo de desconforto, uma vez que, antes da vasectomia, é muito comum já haver outro tipo de método contraceptivo em uso. Recanalização (ou reunião espontânea das bocas da vasectomia) pode ocorrer muito raramente. As taxas de recanalização espontânea reportadas na literatura são inferiores a 1 para cada 1.500 vasectomias realizadas. Para se evitar qualquer tipo de problema, recomenda-se a realização de um espermograma 3 meses após a vasectomia a fim de confirmar o sucesso do procedimento antes de iniciar as relações desprotegidas.
Dr. Guilherme Leme de Souza