OLIGOZOOSPERMIA

O QUE É OLIGOZOOSPERMIA?

O termo oligozoospermia se refere à redução na quantidade do número de espermatozoides presentes no líquido ejaculado. Não significa, portanto, que haja algum tipo de problema na produção do líquido por si só. Essa diferenciação é muito importante porque espermatozoides e líquido seminal não são produzidos no mesmo local do corpo. Os espermatozoides são as células reprodutivas, invisíveis a olho nu, e são produzidos no interior dos testículos. Já o líquido seminal é produzido quase todo na próstata e em pequenas bolsas que ficam acopladas a ela, chamadas vesículas seminais. Espermatozoides e fluido seminal misturam-se nas vesículas seminais e compõem o líquido ejaculado. Dessa forma, quando encontramos oligozoospermia ao espermograma, estamos dizendo que há redução na quantidade de espermatozoides, podendo a quantidade de líquido ejaculado ser perfeitamente normal.

COPOS_FINAL

Sempre que encontramos menção à oligozoospermia (ou eventualmente “oligospermia”, dependendo do laboratório), estaremos diante de homens que apresentaram, em seu espermograma, uma contagem inferior a 15 milhões de espermatozoides por mL de líquido ejaculado, ou seja, sêmen com baixa densidade de espermatozoides (também denominado sêmen de “baixa concentração”). Isso não significa, todavia, que homens com valores logo acima tenham seu sêmen completamente normal. Sabemos que, em homens férteis e com filhos, a concentração média é de 73 milhões de espermatozoides por mL! Ou seja, devemos encarar o valor de 15 milhões como um mínimo aceitável, além de entendermos que homens com contagens maiores também podem apresentar dificuldades para engravidar sua parceira. Vale ressaltar a elevada importância de termos ao menos dois espermogramas realizados em laboratório de confiança.

CUIDADOS MÉDICOS

Com relação aos cuidados médicos, devemos diferenciar situações em que há poucos espermatozoides por mau funcionamento testicular daquelas em que há falta de “combustível” hormonal aos testículos (que funcionam como um “motor” para o homem).

  • Hipogonadismo hipogonadrotrófico – Quando faltam hormônios. Em geral, resolvemos a situação com o uso dessas substâncias.
  • Hipogonadismo hipergonadotrófico – Quando há problemas no funcionamento do “motor”. Estamos diante de indivíduos com disfunção testicular.

                Essa segunda situação requer maior atenção para o diagnóstico, uma vez que este ajuste fino pode ser bastante difícil. Como causas para essa disfunção, cabe enumerar:

  • Varicocele (ou varizes escrotais).
  • Obesidade.
  • Uso de determinados tipos de medicação.
  • Necessidade de tratamentos prévios que tenham agredido os testículos ou o aparato hormonal (principalmente quimioterapia, radioterapia ou cirurgias genitais).
  • Exposição profissional a determinados tipos de substâncias ou agentes físicos.
  • Abuso prévio de anabolizantes.
  • Doenças testiculares da infância e juventude – tanto as de nascença (como a criptorquidia, ou testículo não descido), como as adquiridas (como a orquite por caxumba).

 Disfunções testiculares demandam trabalho e atenção, uma vez que o ajuste fino, apesar de delicado, pode levar a grandes diferenças na produção espermática.

OLIGOZOOSPERMIA GRAVE

Contagens muito baixas, inferiores a 5 milhões de espermatozoides por mL de fluido, são a base para o diagnóstico de “oligozoospermia grave”. Esse grupo e homens apresenta diversas particularidades, tanto médicas como em termos de cuidados necessários em laboratório, quando precisamos empregar técnicas de reprodução assistida (TRA).

Sob o ponto de vista genético, homens com essa característica podem apresentar risco de até 14% para alterações cromossômicas (problemas genéticos que podem ser diagnosticados pela avaliação do cariótipo do sangue periférico). Várias dessas alterações podem ocorrer sem que o homem apresente qualquer problema óbvio em sua saúde, a não ser em sua capacidade de produzir espermatozoides. O grande problema reside no fato de que, mesmo sem apresentar sinais ou sintomas, essas características genéticas podem ser transmitidas aos filhos de modo diferente, aumentando as chances de reais problemas de saúde. É fundamental diagnosticarmos condições genéticas nos pais para prevenir a ocorrência de doenças nos filhos, para tanto, utilizando serviços de aconselhamento genético, ou, eventualmente, o diagnóstico genético dos embriões formados em tratamentos envolvendo fertilização in vitro (FIV). A pesquisa de microdeleções do cromossomo Y, também, deverá ser realizada com o mesmo intuito, ganhando importância primordial nos casos em que não houver espermatozoides no ejaculado (situação conhecida como azoospermia). Esse exame ajuda bastante nesses cenários, pois aponta para a possibilidade ou não de conseguirmos encontrar espermatozoides por meio de microcirurgias.

  

CUIDADOS LABORATORIAIS

É necessário que tenhamos especial atenção com os casos de oligozoospermia grave. Sabemos que o compartimento testicular responsável pela produção espermática (espermatogênese) é extremamente complexo e delicado. Portanto, oscilações na produção de espermatozoides ocorrem com grande frequência em todos os homens, causadas por qualquer situação que leve o indivíduo a estresse fisiológico, como traumas,  privação de sono, má alimentação, queda da resposta imune ou até mesmo infecções comuns. Em homens que habitualmente produzem quantidades grandes de espermatozoides (100, 200 milhões por mL), tais oscilações não representarão grande impacto. No entanto, para o homem que apresenta produção espermática habitualmente muito baixa, oscilações podem levá-lo a contagens zeradas em determinados momentos. Se essa condição ocorrer durante uma FIV, por exemplo, em que espermatozoides são essenciais para se realizar determinadas etapas, corre-se o risco de perdermos o tratamento, sendo, muitas vezes, necessário o congelamento indevido de óvulos, aumentando custos e reduzindo-se taxas de sucesso. Para se evitar esse tipo de problema, pode-se realizar a criopreservação (congelamento) de espermatozoides de forma preventiva. Essa medida simples pode garantir a quantidade mínima de espermatozoides para um tratamento assistido de forma segura. A mesma estratégia pode ser usada em situações em que prevemos chances de oscilações, como antes de determinados tipos de cirurgia ou tratamentos medicamentosos.

Vale mencionar, ainda, os recentes avanços em termos de manejo hormonal de indivíduos portadores de oligozoospermia grave. Diversos estudos vêm sendo conduzidos visando estabelecer a melhor forma para estimularmos a produção espermática com uso de hormônios. Todos os protocolos hormonais utilizados com finalidade de aumento da produção de espermatozoides se baseiam naqueles utilizados para as mulheres durante indução de ovulação ou estímulo dos ovários para tratamento de FIV. As mesmas classes de medicamentos são usadas, porém, com doses e intervalos diferentes. Existem esquemas mais simples, baseados em medicamentos como o citrato de clomifeno, anastrozol ou letrozol, até estratégias mais complexas, utilizando medicamentos injetáveis sintéticos ou purificados, como menotropinas, FSH e HCG. Definitivamente, não são esquemas medicamentosos que podem ser utilizados continuamente, de maneira subótima. O emprego desses esquemas precisa, necessariamente, ser feito sob monitorização clínica e laboratorial contínua e em ambiente médico, da mesma forma que se faz durante induções hormonais para mulheres.

O MAU USO DA TESTOSTERONA

Infelizmente, ainda, encontramos indivíduos que fazem uso indevido de testosterona como ferramenta para incrementar a fertilidade. A testosterona é o principal hormônio masculino de nosso organismo e seu uso correto pode propiciar diversos benefícios quando bem-indicado. No entanto um dos principais efeitos adversos do uso da testosterona é a redução na produção de espermatozoides. Para entendermos melhor, o uso de testosterona para o homem tem o mesmo efeito reprodutivo que o uso de pílulas anticoncepcionais para as mulheres.

          Indução hormonal com finalidade de incremento do potencial reprodutivo deve ser realizada com hormônios que estimulam o trabalho testicular, e não com testosterona pura. Homens que farão tratamento com testosterona deverão, inclusive, ser alertados quanto a esse eventual efeito na redução do potencial fértil.

Dr. Guilherme Leme de Souza