ASTENOZOOSPERMIA

O termo astenozoospermia refere-se a defeitos na motilidade dos espermatozoides. Em geral, referimo-nos a essa condição a partir de uma porcentagem que pode refletir a quantidade de espermatozoides que se movem progressivamente (aqueles que realmente se deslocam para frente), ou a quantidade de espermatozoides que mostram qualquer tipo de movimentação (seja para frente, para os lados, ou até mesmo apenas movimentação de cauda sem que haja deslocamento). Habitualmente, classificamos os espermatozoides em quatro “categorias” de movimentação:

  • Espematozoides Móveis e Progressivos: deslocam-se para frente, em movimento linear.
  • Espematozoides Móveis e Não Progressivos: não progressivos, movimentam-se, mas sem deslocamento.
  • Espematozoides Imóveis.

DIAGNÓSTICO

Classificamos um indivíduo como portador de astenozoospermia quando obtemos porcentagens de espermatozoides móveis totais (progressivos e não progressivos) inferiores a 40% do total de espermatozoides; e/ou porcentagens de espermatozoides progressivos inferiores a 32%.

A quantidade de espermatozoides móveis traduz uma série de informações por meio do espermograma: quando temos espermatozoides móveis, existe a certeza de que estão vivos e que foram capazes de passar por toda a “linha de montagem” que compõe cada um deles (a chamada espermatogênese), além de terem sido produzidos em boa quantidade e tolerado bem toda a “viagem” até a ejaculação, com vida e reserva energética para manter sua capacidade de movimentação. Em outro extremo, quando temos uma situação em que há apenas espermatozoides parados, podemos estar diante de espermatozoides mortos, inviáveis (necrozoospermia), ou de espermatozoides com defeitos em sua estrutura interna, incapazes de qualquer tipo de movimentação, mas ainda vivos. É importante diferenciar essas duas condições uma vez que terão formas diferentes de conduta. Quando temos espermatozoides totalmente imóveis no ejaculado, a causa mais comum é a necrozoospermia, em geral, secundária a algum tipo de contaminante durante a coleta do sêmen. É possível que tais contaminantes estivessem presentes no plástico do frasco de coleta, que podia não ser adequado ou não estar completamente esterilizado, ou até mesmo por conta de substâncias presentes na pele do indivíduo, como sabões, cremes ou lubrificantes. Diante dessa situação, o primeiro passo é repetir o exame, com atenção máxima às condições de coleta.

CAUSAS

        Existem muitas potenciais causas para termos redução nos percentuais de motilidade de espermatozoides. Entre as mais comuns, estão:

  • Períodos longos de abstinência ejaculatória.
  • Infecções com presença de leucócitos (células de defesa) no fluido seminal.
  • Obstruções parciais (por tecido cicatricial após cirurgia de reversão de vasectomia, por exemplo).
  • Presença de anticorpos antiespermatozoides (caracterizando a infertilidade imunológica secundária a grandes agressões testiculares, como trauma, torção, infecções cirúrgicas prévias ou inflamações severas, como a orquite por caxumba do adulto).
  • Defeitos estruturais da cauda do espermatozoide (em doenças como a Discinesia Ciliar Primária e Síndrome de Kartagener).

MICROSCOPIA ELETRÔNICA

 Este tipo de alteração não é passível de identificação mediante métodos convencionais, podendo ser diagnosticada com certeza apenas por meio de aumentos muito potentes de imagem, que só podem ser obtidos com microscopia eletrônica, exame extremamente especializado e pouco disponível, mas que permite a avaliação de detalhes internos de espermatozoides isolados.

EXISTE POSSIBILIDADE DE GRAVIDEZ NESSES CASOS?

Espermatozoides com defeitos ultraestruturais que levam à ausência de motilidade precisam, necessariamente, ser colocados no interior do óvulo com o auxílio da FIV com ICSI (injeção intracitoplásmica de espermatozoides) para que haja possibilidade de gravidez, ainda que reduzida. Em alguns casos, ainda, não se consegue determinar a real causa da astenozoospermia. Essas situações denominamos astenozoospermia idiopática.

Astenozoospermia_1

Fonte: Visco V, et al. Morphological sperm defects analyzed by light microscopy and transmission electron microscopy and their correlation with sperm motility. Int J Urol. 2010 Mar;17(3):259-66

 

DIAGNÓSTICO PRECISO

Uma vez confirmada a astenozoospermia em dois ou mais exames, é preciso partir para o diagnóstico preciso. Uma estratégia interessante é avaliarmos a viabilidade dos espermatozoides (se estão vivos ou não) e a presença de anticorpos antiespermatozoides. Para determinarmos a presença de anticorpos antiespermatozoides (AAE), podemos lançar mão do teste de immunobead, em que esferas sintéticas (beads) e repletas de anticorpos capazes de se “fixarem” aos AAE são misturadas ao sêmen. Dessa forma, apesar de não ser possível visualizar nenhum tipo de anticorpo com microscópios convencionais, consegue-se enxergar as esferas (beads) e diagnosticar a presença e o local dos AAE.

Astenozoospermia_2.png

Fonte da imagem: Hamada A, et al. Unexplained Male infertility: Diagnosis and Management. Int Braz J Urol. 2012 Sep-Oct;38(5):576-94

Para avaliarmos a viabilidade, podemos usar testes com corantes, como a eosina-niAstenozoospermia_3grosina (corando em marrom os espermatozoides inviáveis), sendo muito úteis por sua facilidade, mas inutilizando a amostra para uso em óvulos.

Para testar a viabilidade de espermatozoides que precisam continuar vivos para ser utilizados em algum tipo de tratamento em reprodução assistida (TRA), necessitamos lançar mão detestes realizados “em fresco”, como o teste do edema hipo-osmótico, em que utilizamos soluções aquosas que edemaciam e enrolam a cauda de espermatozoides viáveis sem traumatizá-los, fazendo com que possam ser utilizados em TRA; ou, ainda, pela seleção com uso de disparo único de laser na cauda, promovendo uma trepidação (twitch) na cauda dos espermatozoides viáveis.

Fonte da imagem:  Zeyneloglu HB, et al. Detection of chromosomal abnormalities by fluorescent in-situ hybridization in immotile viable spermatozoa determined by hypo-osmotic sperm swelling test. Hum.Reprod. 2000,15,  853-856.

 

CAUSAS

Uma condição bastante comum que pode levar à redução nos percentuais de motilidade é a existência de infecções, que, muitas vezes, podem causar poucos ou até mesmo nenhum sintoma. Os únicos indícios podem incluir desconforto na região testicular e, mais frequentemente ainda, presença de leucócitos no sêmen (leucocitospermia). O excesso destas células de defesa acaba sendo prejudicial para a qualidade seminal por conta do intenso gasto energético que possuem, fazendo com que haja acúmulo de substâncias secundárias a essa grande “queima energética”, conhecidas como radicais livres de oxigênio (ROS). Sempre existem tais substâncias no sêmen, mas em quantidades moderadas. Quando essa quantidade ultrapassa determinados limites (situação chamada estresse oxidativo), pode haver dano a determinadas porções do espermatozoide, principalmente em seu material genético, e na região do “pescoço” (ou peça intermediária), onde se localizam as mitocôndrias, que funcionam como “baterias” energéticas.

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Quando isso ocorre, as reservas de energia do espermatozoide diminuem, e a motilidade acaba derrubada.

 

COMO REVERTER?

Essas condições podem ser revertidas com uso correto de antibióticos e, em casos selecionados, de substâncias com caráter antioxidante em uma tentativa de se reduzir o acúmulo de ROS. Infelizmente, é muito comum homens ainda serem liberados para tratamentos complexos como a FIV, apresentando sinais de estresse oxidativo e leucocitospermia sem que recebam tratamento adequado, o que reduz as taxas de sucesso e leva casais, diversas vezes, a tratamentos desnecessários.

Dr. Guilherme Leme de Souza