TERATOZOOSPERMIA

Teratozoospermia é a situação em que há grande porcentagem de espermatozoides em formato anormal (defeitos de morfologia). Quando avaliamos o espermograma, diversos parâmetros são avaliados, incluindo o volume do líquido, a quantidade de espermatozoides e sua capacidade de movimentação. Um dos mais importantes parâmetros é a morfologia porque nos repassa informações sobre quantos espermatozoides com formato perfeito são produzidos em uma ejaculação. Utilizamos, para tanto, um método específico para estudar esse formato: é o famoso critério estrito de Kruger. Esse método (criado pelo cientista Thinus Kruger, nTeratozoospermia_1a África do Sul,  também conhecido como critério de Tygerberg) recebeu esse nome porque foi desenvolvido de maneira extremamente rigorosa, de forma que apenas os mais perfeitos espermatozoides são aprovados por essa avaliação.
Isso significa que mesmo homens férteis, com filhos, produzem muitos espermatozoides com alguns defeitos de formato e que, segundo o critério de Kruger, podem não ser considerados normais. Para se estudar a morfologia dos espermatozoides é necessário que se utilize corantes especiais em um processo que fixa as células. Dessa forma, esses espermatozoides corados não poderão ser utilizados em tratamentos para gestação e servirão apenas para se realizar o exame.

Fonte da imagem: Aksoy E, et al. Assessment of spermatozoa morphology under light microscopy with different histologic stains and comparison of morphometric measurements. Int. J. Morphol. 30 (4), 2012

Os defeitos de morfologia podem ser observados nos diferentes pontos do espermatozoide:

  • Cabeça: é o compartimento espermático que contém o material genético, ou seja, toda a informação necessária para a geração embrionária. Nesse compartimento, também, localiza-se o acrossoma, que é uma espécie de “capuz” que recobre a cabeça espermática e rico em enzimas e cálcio, fundamentais para a fertilização natural mediante a denominada reação acrossômica, que conecta óvulo e espermatozoide, assim, permitindo a entrada do conteúdo genético e o início da ativação oocitária.

 

  • Peça intermediária: é o “pescoço” do espermatozoide. Nesse compartimento estão as mitocôndrias, que são responsáveis pelo abastecimento energético dos espermatozoides. Defeitos nessa região, frequentemente, associam-se à redução no suprimento energético do espermatozoide e, consequente, redução nos percentuais de motilidade.

Teratozoospermia_2

  • Cauda: é a porção do espermatozoide responsável pelo deslocamento. Defeitos na estrutura da cauda inviabilizam o processo de fertilização natural. Alguns defeitos no interior da cauda só são visíveis com uso da microscopia eletrônica e estão ligados a sérias doenças respiratórias, como a Discinesia Ciliar Primária e a Síndrome de Kartagener.

Morfologia_dos_espermatozoides

Uma grande preocupação dos casais que procuram auxílio médico e apresentam teratozoospermia é a possibilidade de defeitos de formação em seus futuros filhos. É importantíssimo ficar claro que a morfologia se refere exclusivamente ao formato dos espermatozoides. Portanto, os filhos de homens com teratozoospermia não têm chances maiores de apresentarem más-formações ou doenças genéticas pelo simples fato de encontrarmos espermograma com taxas baixas de morfologia normal. A forma correta de encararmos a teratozoospermia é como a presença de condições que levam a algum tipo de agressão testicular, com repercussão no amadurecimento dos espermatozoides.

Encontramos apresentações diferentes de teratozoospermia, com dois padrões de alterações no formato espermático:

  • Polimórficas: divTeratozoospermia_3ersos tipos de defeitos são encontrados, refletindo maior tendência a encontrarmos agressões testiculares como varicocele, exposições profissionais a calor ou agentes físicos, ou tratamentos envolvendo quimioterapia e radioterapia no passado. Em geral, esses casos, também, apresentam alterações em todos os outros padrões, de forma que o espermograma revele defeitos não só de formato, mas, também, baixo número de espermatozoides, além de baixos percentuais de motilidade. Trata-se de um grupo muito heterogêneo que envolve, potencialmente, todas as causas de estresse ao ambiente testicular. Um exemplo de alteração típica encontrada em homens com teratozoospermias polimórficas é o espermatozoide pin-head (similar à cabeça de agulha), que apresenta um grave defeito de cabeça, com dimensões extremamente reduzidas e ausência completa de material genético, sendo, portanto, um espermatozoide completamente inadequado até mesmo para FIV (fertilização in-vitro) com ICSI (injeção intracitoplásmica de espermatozoides).
Fonte da imagem: http://www.tupbebek-genetik.com/ayin-konusu/sperm-morfolojisi-siddetli-sperm-morfolojik-defektleri
  • Monomórficas: encontramos apenas um tipo específico de defeito de formato, levando-nos a pensar em causas de ordem genética, que vêm sendo apontadas por diversas e recentes publicações internacionais. A forma mais comum neste grupo é a globozoospermia, em que os espermatozoides apresentam grave defeito de formato de cabeça, que apresenta formato esférico e grande dimensão. Falta um importante componente, chamado acrossoma, que contém enzimas responsáveis pela penetração do espermatozoide no óvulo e pela ativação do processo de fertilização. Esses casos exigem FIV com ICSI para que o espermatozoide chegue ao interior do óvulo e apresentam taxas de gravidez muito baixas.

 

Fonte da imagem: Couton C, et al. Teratozoospermia: spotlight on the main genetic actors in the human. Hum. Reprod. Update, Vol.0, No.0 pp. 1–31, 2015

Sob o ponto de vista de técnicas de reprodução assistida, é muito comum que se sugira métodos complexos como a FIV para todos os indivíduos com teratozoospermia (morfologia <4%, pelo critério de Kruger). Esse tipo de sugestão deve ser entendido com cuidado. Como a morfologia é expressa por um valor percentual, é possível que tenhamos indivíduos com grande quantidade de espermatozoides com bom formato, visto que valores de 2 e 3% podem representar grande quantidade, se o número total de espermatozoides for suficientemente alto. A maneira ideal de decidirmos o melhor caminho é a partir do entendimento amplo da condição de cada casal, bem como das causas que podem estar levando o indivíduo ao diagnóstico de teratozoopsermia. Individualizar o tratamento deve ser sempre o objetivo, quando se trata de melhores resultados. O primeiro passo precisa ser a identificação da causa para, então, buscar a solução. Diversas causas podem ser tratadas, como infecções, medicações inadequadas ou doenças passíveis de cura. O potencial reprodutivo do homem pode e deve ser visto como uma ferramenta de medida da saúde masculina como um todo. Partir para métodos artificiais sem resolver problemas que podem ser resolvidos é o erro mais comum, e, talvez, uma das principais causas de falhas de tratamentos. Homem e mulher devem ter seu status de saúde otimizado antes da aplicação de qualquer tratamento em reprodução assistida.

Dr. Guilherme Leme de Souza