PRÓSTATA E SAÚDE DO HOMEM: ISSO É COM TODOS NÓS!

No mês de novembro, todos os urologistas vestem azul: é hora de nos lembrarmos e de reafirmarmos a necessidade dos cuidados à próstata! Melhor ainda é mantermos em mente a necessidade desses cuidados por todo o ano. Afinal, a próstata estará sempre lá, durante os doze meses!

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O QUE É E PARA QUE SERVE ESTE ÓRGÃO?

 Hoje em dia, todos nós sabemos que é preciso cuidar da próstata, mas quase nunca nos lembramos para que serve este órgão que tanto assusta a todos. A próstata é uma glândula existente apenas nos homens, que envolve o início da uretra (e, às vezes, comprime a mesma quando seu volume aumenta, dificultando a saída da urina), e localiza-se entre a bexiga e o intestino grosso, na região conhecida como períneo.

 A principal função da próstata é a produção do líquido seminal, que servirá para conduzir os espermatozoides (que são produzidos nos testículos) ao encontro do óvulo durante o ato sexual. Dessa forma, o material ejaculado é composto por uma parte “sólida” e microscópica ─ as células (espermatozoides) fabricadas nos testículos, e líquido seminal, que é visível a olho nu, fabricado na próstata.

Com isso em mente, fica fácil entender a função da próstata: é um órgão de extreProstata_e_a_saude_do_homem_1.pngma importância na função reprodutiva do homem. Esta posição mais “escondida” da próstata torna-a difícil de ser examinada pelo médico. Órgãos abdominais podem ser palpados pela barriga; órgãos torácicos podem ser auscultados. A próstata, por sua vez, só pode ser examinada pelo famigerado toque, que é feito através do intestino (
uma vez que a próstata vive encostada nele), ou por meio de manobras indiretas: exames de sangue que medem a quantidade de uma certa proteína produzida por ela (o igualmente famoso Antígeno Prostático Específico, ou PSA), ou por medidas feitas com ultrassom, através da bexiga. Isso nos faz entender o primeiro importante conceito: próstata só deve ser avaliada por um médico acostumado a encontrá-la, examiná-la e que entende como prevenir e tratar os eventuais problemas.

O CÂNCER DE PRÓSTATA     

O mais temido problema prostático é, sem dúvida alguma, o câncer de próstata. Esse problema é muito mais frequente entre homens com 65 anos ou mais, faixa etária na qual encontramos até 75% dos casos. No entanto, devemos manter a atenção também aos indivíduos mais jovens, época em que podemos lançar mão de algumas medidas que reduzem as chances de ocorrência futura da doença. Sabemos, hoje, que as chances de instalação do câncer de próstata se iniciam ao redor dos 40 anos e tornam-se maiores após os 50. Sabemos também que indivíduos afrodescendentes e latinos apresentam maior chance de serem acometidos. Por sua vez, algumas populações, como asiáticos e indígenas, apresentam chances muito baixas. No Brasil, nossa gente apresenta importante miscigenação, de forma que todos devem considerar as chances de se depararem com o problema! Mais atenção ainda merecem os homens cujos pais apresentaram câncer de próstata em algum ponto de sua vida, com mais chance de problemas naqueles que os pais tiveram a doença antes dos 65 anos! Essas são todas características individuais que não podem ser modificadas: são os chamados “fatores de risco” (idade, etnia, história familiar de câncer prostático).  De acordo como Instituto Nacional do Câncer, o INCA, o câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais frequente no homem, perdendo apenas para os tumores de pele. Além disso, é uma importante causa de óbitos por doenças oncológicas, ficando atrás apenas do câncer de pulmão. Daí a grande importância das duas principais ações que devemos ter:

  • A prevenção do problema (isto é, evitar que ele surja).
  • O rastreamento (identificar rapidamente os casos que já surgiram, quando a doença ainda é de fácil resolução, com grande chance de cura).

 

A IMPORTÂNCIA DO RASTREAMENTO: COMO PROCURAR?

O rastreamento é recomendo para todos os homens que se encontrem na faixa etária de maior chance de acometimento (a partir dos 50 anos, ou, eventualmente, a partir dos 40, homens que apresentem algum dos “fatores de risco” que mencionamos).

Basicamente, o rastreamento é todo executado durante a consulta ao urologista, que deve ser rotina para todos os homens que se encontrem nessas faixas etárias.

 

O PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS DE TUMOR DE PRÓSTATA

A história clínica e o exame físico serão a base para esta triagem. Utilizamos dois sistemas de “alarme” para sabermos se há algum tipo de risco de tumor de próstata: Identificamos problemas prostáticos pelo exame de PSA (no sangue), que deverá ser feito com pelo menos 2 dias de abstinência de ejaculação e  de massagem prostática por toque ou por esportes que comprimam o períneo, como ciclismo ou cavalgada (para evitarmos aumento proposital do PSA, que pode subir por extravasamento de substâncias prostáticas após a compressão, assim, falseando o resultado). Dessa forma, é interessante termos o PSA colhido antes do toque da próstata, que também deverá ser realizado como parte do rastreamento.

Obtenção do valor correto de PSA em associação com avaliação da superfície prostática por meio do toque é a melhor combinação para afastarmos as possibilidades de câncer de próstata. Um exame não substitui o outro, ambos são fundamentais e devem ser realizados periodicamente. A periodicidade do rastreamento é variável, dependendo, principalmente, dos valores de PSA, podendo ser de repetição anual ou bienal. Valores de PSA inferiores a 2,5ng/dL nos dão maior tranquilidade e permitem intervalos maiores entre as consultas. Alterações no PSA ou no toque impõem a necessidade de maior atenção e exames mais detalhados, como a biópsia de próstata, que é o exame de maior acurácia para diagnosticarmos a presença de tumores na próstata. Naturalmente, é um exame mais delicado e só é realizado nas situações em que um dos “alarmes” sinaliza chance de problema. Vale lembrar que esses “alarmes” – o PSA e o toque de próstata – são extremamente sensíveis e podem soar por problemas diversos, que nem sempre significam existência de tumor!

Inflamações agudas, ejaculação recente ou compressão por toque podem fazer subir o PSA: portanto, interpretar corretamente é parte do jogo. Alguns remédios abaixam “forçadamente” o PSA, o que acaba por tranquilizar de modo errôneo muitos médicos e pacientes: é como se deixássemos o “alarme” em silêncio, de forma a não ouvirmos seu sinal se ele tocar por algum problema. O melhor cenário é termos o “alarme” funcionando, pronto para tocar. E de preferência sem problemas que o disparem!

PREVENÇÃO SEMPRE: E PARA EVITARMOS O SURGIMENTO?

“Fatores de risco” como idade, etnia e história familiar, como já mencionado, não podem ser mudados. São características individuais. Mas existem hábitos que podem ser adequados, reduzindo as chances de ocorrência de câncer de próstata. As causas do surgimento do câncer prostático são ainda pouco conhecidas. Não sabemos apontar claramente o que causa a doença. No entanto conhecemos alguns padrões de comportamento que aumentam os riscos e podem ser evitados.

 Os principais fatores “modificáveis” estão relacionados à dieta:

  • Sabemos que indivíduos em sobrepeso não apresentam mais chances de surgimento, mas apresentam formas mais agressivas de tumores quando esses se instalam. O combate ao sobrepeso é uma recomendação já consagrada para se evitar as formas mais perigosas de câncer de próstata.
  • Atividade física é encorajada por todas as sociedades internacionais que lidam com prevenção ao câncer prostático.
  • Dietas ricas em carnes vermelhas e excesso de cálcio, com abuso de polivitamínicos sem supervisão médica (principalmente vitamina E sem adição de selênio, de acordo com muitos estudos), são, também, considerados fatores de risco evitáveis.
  • Enriquecer a dieta com peixes (ou suplementação de ômega-3) é uma ação que vem ganhando cada vez mais reconhecimento como modalidade preventiva eficaz.

MEDICAÇÃO PREVENTIVA

Algumas medicações foram pesquisadas como forma preventiva ao câncer de próstata, mas sem que se encontrassem evidências suficientes para recomendá-las sem risco à saúde. As principais substâncias foram a finasterida e a dutasterida, que são drogas utilizadas para redução do volume prostático em portadores de hiperplasia prostática benigna. São medicamentos que reduzem os níveis de PSA (silenciam o “alarme”!) e ajudam bastante no alívio dos sintomas do aumento excessivo da próstata. No entanto preveniram apenas formas muito brandas de câncer de próstata, selecionando as formas mais agressivas da doença.  Atualmente, por conta desses achados, não são recomendadas pelo FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos, como medicações a serem usadas com finalidade preventiva.

Na data de hoje, as recomendações do National Cancer Institute (NCI) suportam o consumo de ao menos 2 xícaras e meia de vegetais, frutas e legumes, além do controle de peso e prática de exercícios físicos regulares. Como de hábito, a prevenção mais sólida não se apoia em drogas, mas se baseia na melhoria de hábitos, incremento da atividade física constante e dieta adequada e supervisionada. Para prevenir o câncer de próstata, essa também parece ser a melhor estratégia!

Fontes:

http://www.cancer.org/cancer/prostatecancer/index

http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/prostata/definicao

Dr. Guilherme Leme de Souza