De todos os problemas de saúde que podem acometer o sistema genital do homem, a infecção pelo HPV (papilomavírus humano) é certamente a mais frequente. Sabemos que qualquer homem com vida sexual ativa pode albergar partículas virais em seu organismo, e que até 10% de todos os homens um dia apresentarão a manifestação mais comum de atividade desse vírus: as temidas verrugas genitais. Nos Estados Unidos, por exemplo, aproximadamente 14 milhões de homens adquirem o HPV todos os anos!
Obviamente, as verrugas trazem problemas estéticos e sintomáticos, uma vez que podem incomodar, coçar, doer ou até mesmo sangrar. Mas os problemas não se restringem apenas às verrugas. Sabemos, hoje, que alguns tipos específicos de HPV podem estar envolvidos com a formação de doenças mais graves, como o surgimento de tumores na região genital ou anal. Doenças sérias como o câncer de pênis iniciam com verrugas de HPV não tratadas. O HPV já é um velho conhecido dos ginecologistas e de suas pacientes, uma vez que ele está também intimamente relacionado com o surgimento de problemas oncológicos no colo do útero. No entanto as mulheres estão na frente dos homens nesse ponto, pois já incluem exames de triagem para a presença de HPV em seus exames anuais. Portanto, evitar a presença do HPV no homem é também uma ferramenta de proteção à saúde de sua parceira. Dessa forma, é obrigatório incluir na rotina de investigação clínica de todos os homens o exame físico detalhado que busca sinais desse problema.
COMO OCORRE O CONTÁGIO?
Basicamente, o contágio se dá pelo contato cutâneo com uma pessoa portadora do vírus. Na grande maioria das vezes, esse contato ocorre durante o ato sexual. No entanto, diferentemente de muitas outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), não é necessário penetração ou contato de secreções corporais (como sêmen ou secreção vaginal) com mucosas. Dessa maneira, o contágio é muito fácil, e a ocorrência de infecções é muito comum.
Pessoas portadoras de verrugas genitais têm muito mais chance de serem contaminantes: contato com verrugas visíveis leva a contágio do(a) parceiro(a) em até 65% das ocasiões. Dessa forma, contato sexual na presença de verrugas deve ser fortemente evitado. Todavia, ao contrário do que se imaginava há alguns anos, não é obrigatória a existência de verrugas visíveis para que aconteça a transmissão. As chamadas lesões subclínicas (lesões que se tornam visíveis apenas durante a peniscopia, que é o exame da pele da região genital e proximidades com emprego de reagentes químicos e magnificação com sistemas de lentes), também, podem transmitir o vírus em até 25% das oportunidades. Isso chama muita atenção para a necessidade e importância da realização da identificação dessas lesões por meio da peniscopia, que, via de regra, passam despercebidas.
Como a contaminação é extremamente fácil, é perfeitamente possível a transmissão sem que necessariamente tenha havido contato sexual. Ter isso em mente é muito importante, uma vez que, em até 5% das ocorrências, a contaminação se dá pelo simples contato com toalhas, roupas ou em banheiros e vestiários. Ser portador de HPV, portanto, não é sinônimo de contágio por via sexual!
O DIAGNÓSTICO
O diagnóstico preciso do HPV envolve identificação de fragmentos do vírus a partir de técnicas moleculares, como, por exemplo, a Captura Híbrida. Esse exame é simples e indolor e deverá ser realizado nas situações em que haja lesões suspeitas como as verrugas, ou lesões subclínicas, que são identificadas durante o exame físico combinado com a peniscopia. Biópsias das lesões, também, podem concluir o diagnóstico com precisão. Porém são ferramentas um pouco mais invasivas e demandam uso de anestesia local e uso subsequente de curativos.
PREVENÇÃO – SAÚDE AO ALCANCE DE TODOS
Como tudo em medicina e saúde, prevenir é o melhor remédio. Nos dias de hoje, existem duas formas de prevenção comprovadamente eficazes:
- Evitar contato sexual desprotegido.
- Prevenção por meio de vacina.
Como qualquer doença que pode ser transmitida a partir do contato sexual, o uso do preservativo pode prevenir tremendamente a disseminação do vírus e deve ser sempre empregado, até como estratégia para se prevenir as demais DSTs. No entanto podem existir verrugas ou lesões subclínicas em regiões do corpo que não são protegidas pelo preservativo, como no abdome, no pube e nas coxas. Nesses casos, o preservativo pode não ser suficiente para evitar o contágio. Deve-se evitar qualquer tipo de contato íntimo quando existirem lesões nessas regiões, sob risco de transmissão mesmo com uso de preservativo.
EXISTE VACINA PARA HPV PARA HOMENS?
Sim, a imunização por meio da vacinação vem ganhando cada vez mais espaço entre os homens. Inicialmente, a vacina para HPV foi empregada para meninas apenas, chegando até mesmo a ser oferecida em nosso sistema púbico de saúde. Nos Estados Unidos, no entanto, já se recomenda fortemente que meninos recebam a vacina quadrivalente (para os subtipos 6, 11, 16 e 18), como forma de prevenção masculina.
As boas práticas já nos recomendavam que meninos recebessem a vacina entre os 11 e 12 anos, antes de iniciarem a vida sexual. Agora, com a nova determinação do ministério da Saúde de 11 de outubro de 2016, a vacina para HPV passa também a fazer parte do calendário vacinal para meninos de 12 e 13 anos, através de 2 doses da vacina quadrivalente, com intervalo de 6 meses. É muito importante que ambas as doses sejam utilizadas, para se atingir a eficácia protetora completa! Dessa forma, os jovens estarão protegidos dos tipos mais perigosos de HPV, além de se reduzir o potencial de circulação do vírus. Quando não é possível a administração da vacina nessa idade, pode-se utilizá-la com eficácia equivalente até os 22 anos, com bons resultados. Em casos especiais, jovens de 9 até 26 anos podem receber a vacina, com até 3 doses, da mesma maneira que se utiliza nas meninas. Desta forma, fica claro que o uso da vacina no sexo masculino, apesar de constar apenas no calendário vacinal de rapazes de 12 e 13 anos, pode sim ter seu emprego ampliado para homens jovens, com benefício muito bem definido.
Trata-se de uma vacina extremamente segura, com efeito duradouro por toda a vida. A vacina não utiliza vírus vivo, e sim pedaços da “capa” do vírus, para fazer com que o sistema imunológico conheça suas “peças”, sem necessariamente ter contato com ele.
TRATANDO OS PORTADORES DE HPV
Na grande maioria das vezes, o organismo é capaz de combater o HPV sem que haja qualquer tipo de sintoma. Quando encontramos uma verruga, ou uma lesão subclínica, estamos diante de uma situação em que este combate ao vírus falhou de alguma forma. Nestes casos, é importante eliminarmos as lesões o mais rapidamente possível. Assim, eliminamos as chances de transmissão do vírus, além de evitar a persistência destas lesões, com sua potencial progressão para problemas mais sérios.
Existem diversas formas de removermos as lesões e devemos sempre buscar a sua remoção, são elas:
- Retirada cirúrgica.
- Cauterização térmica.
- Ácido tricloroacético.
- Congelamento por crioterapia com nitrogênio.
- Ou até induzir o desaparecimento das lesões a partir do uso de medicamentos (como o imiquimod, fluoruracil, podofilina ou podofilotoxina).
Essas diversas técnicas têm altíssima eficácia e devem ser utilizadas sozinhas ou combinadas. Cada técnica tem seu melhor emprego dependendo do tamanho, localização e característica da lesão, o que é definido pela avaliação médica urológica individualizada e cuidadosa.
Mesmo com tratamento adequado, as lesões podem voltar a surgir em até 25% dos casos. Nestas situações, é muito importante conhecermos o estado imunológico do paciente. A única forma de cura do HPV é a própria atividade imune do paciente. A diferença entre pacientes que têm grande manifestação genital e aqueles que debelam imediatamente o HPV está na qualidade da resposta imunológica. Lesões que persistem após tratamento indicam necessidade de incremento e melhoria nas defesas corporais, o que garante investigação adequada e medidas médicas que propiciem otimização das respostas naturais do indivíduo.
Fontes:
Center for Disease Control and Prevention – MMWR, Jun 5, 2015. Sexually Transmitted Diseases Treatment Guidelines, 2015. Disponível em: http://www.cdc.gov/std/tg2015/tg-2015-print.pdf
HPV and men – CDC fact sheet. Disponível em: http://www.cdc.gov/std/hpv/hpvandmen-fact-sheet-february-2012.pdf
Guia prático sobre o HPV – Guia de perguntas e respostas para profissionais da saúde. Ministério da Saúde, Brasília, 2014. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/marco/07/guia-perguntas-repostas-MS-HPV-profissionais-saude2.pdf
Dr. Guilherme Leme de Souza