Cálculos renais: quem já passou por isso sabe muito bem o tamanho do problema! A dor e o desconforto são tão indesejados que a prevenção é sempre o melhor caminho. Os rins agradecem! Descubra como prevenir as famosas “pedras” com as informações científicas abaixo:
A nefrolitíase (ou cálculos renais) provém da formação de pequenos cristais a partir da precipitação de minerais e resíduos da urina no interior do rim. A sua ocorrência tem crescido substancialmente, principalmente, nos países industrializados, que possuem alimentação mais rica em sódio, proteína animal, bebidas adoçadas com frutose de origem industrial, açúcar e excesso de carbonatos e fosfatos presentes nos alimentos processados. O excesso destes nutrientes aumenta a excreção de cálcio, ácido úrico, oxalato e fósforo pela urina, tornando-a mais concentrada e favorecendo o surgimento das “pedrinhas”. A presença dos cálculos costuma ser indolor em cerca de um terço dos indivíduos, mas a maioria dos indivíduos possui algum tipo de desconforto, que pode ser leve (como um incômodo na região lombar) a intenso (fortíssimas cólicas com náuseas e vômitos, com o escurecimento ou até sangramento na urina).
Vale lembrar, também, que cerca de 50% dos pacientes que apresentaram cálculo pela primeira vez na vida podem voltar a apresentá-los nos próximos 10 anos. Logicamente, ao invés de simplesmente focalizar os esforços em tratar os cálculos, o mais sensato é evitar que essas pedras se formem a partir da inclusão de hábitos saudáveis em nossa rotina. Para definirmos essas ações, é importante sabermos que os dois tipos de cálculo mais frequentes (e também os mais relacionados à nossa dieta) são aqueles formados por oxalato de cálcio (formados por cálcio e oxalatos eliminados pela urina) e por ácido úrico (formados a partir da concentração de substâncias chamadas purinas, que estão envolvidas no metabolismo das proteínas). Dessa forma, estratégias que reduzem a concentração dessas substâncias na urina serão úteis na prevenção. Abaixo, segue uma relação de sugestões nutricionais que podem ajudar bastante nessa prevenção:
- Atenção aos alimentos que contenham excesso de frutose industrial e sacarose (açúcares presentes em alimentos industrializados). O aumento do consumo de alimentos que contenham sacarose (açúcar refinado) e frutose produzida pela indústria, especialmente refrigerantes, biscoitos, sucos artificiais e bebidas adoçadas, sorvetes e doces, relaciona-se à maior formação de cálculo através dos efeitos diretos sobre os rins, como a elevação da excreção urinária de oxalato de cálcio. Fique atento e evite consumi-los de forma habitual (menos de 2 vezes na semana).
- Cuidado ao utilizar suplementos proteicos e exceder à quantidade de carnes e alimentos proteicos. A dieta do brasileiro já é hiperproteica, logo, não temos a necessidade do uso banalizado de suplementos proteicos, salvo casos de atletas e algumas condições clínicas. O consumo excessivo de proteínas pode aumentar a excreção renal de purinas (aminoácidos) e ácido úrico. Uma vez que o organismo tem um limite de absorção dos aminoácidos, logo, se o consumo de proteínas for excessivo, ocorre a excreção deles pelo rim. Saiba adequar a quantidade e os tipos de proteínas aos horários de maior necessidade, assim como a combinação e o equilíbrio nutricional do prato. Além disso, atente à forma de temperar e preparar os alimentos, evitando colocar muito sal, condimentos e temperos industrializados. Evite principalmente os que contem glutamato monossódico. Fique atento aos rótulos!
- Hidrate-se! Já sabemos que devemos beber em torno de 2,0L de água por dia, entre as refeições. Essa necessidade pode variar de acordo com o porte do indivíduo, nível de atividade, umidade local, clima, funcionamento do metabolismo e tipos de alimentos ingeridos, podendo essa necessidade aumentar a até 5,0L de água total por dia. A ingestão de água corresponde a 80% provenientes dos líquidos (água, sucos e bebidas) e 20% dos alimentos (variando de acordo com a composição da alimentação). Nem sempre conseguimos controlar a quantidade de substâncias que estão presentes em nossa urina, mas podemos controlar a quantidade de água que ingerimos e excretamos. Urina mais volumosa significa urina menos concentrada e, portanto, com menor chance de formação de cálculos. Isso nos leva a uma importante observação: o baixo volume de formação de urina é o maior fator de risco para a litíase renal! No entanto nem todo mundo tem o hábito de se hidratar, ou de ingerir alimentos que contenham água, como frutas, vegetais, sucos naturais e alimentos in natura. Portanto, se você deseja prevenir o aparecimento dos cálculos ou a sua recidiva, invista nestes hábitos e procure deixar uma garrafa de água à mão, na mesa do trabalho.
- Evite alimentos industrializados e processados, como salgadinhos, biscoitos, refrigerantes, sucos de caixinha e em pó, gelatinas, embutidos e carnes processadas com salsicha, calabresa, presunto e similares, alimentos congelados, alguns iogurtes e bebidas lácteas, temperos ricos em glutamato monossódico, adoçantes como sacarina sódica, versões diets, entre outros. Esses alimentos contêm uma quantidade considerável de sódio, derivados e produtos químicos, que formam os resíduos e são excretados pela urina, favorecendo a formação dos cálculos. Hoje, sabemos que, ao contrário do que se imagina, o cálcio da dieta não é o grande vilão: o maior problema é o excesso de sódio. Portanto, o abuso do sódio deve ser evitado. Fique atento à lista de ingredientes descritos nos rótulos e, caso tenha muitos nomes desconhecidos, evite. Trocar embutidos por ovo mexido, aves ou carnes in natura, refrigerantes por sucos naturais sem açúcar, ou água com gás e limão ou laranja espremidos, são boas estratégias.
- Aumente a ingestão habitual de frutas, verduras e legumes. Isso também é amplamente conhecido, mas nem todos conseguem incluir na alimentação diária. Procure escolher os alimentos pelos benefícios e nutrientes que irão fornecer, e não somente pelo prazer que eles proporcionam. Saiba balancear bem sua dieta. Lembre-se que aquele prato “colorido”, de fato, não é só papo de nutricionista! A maior diversidade de cores no prato significa melhor ingestão de vitaminas e minerais, e, consequentemente, um melhor funcionamento do corpo todo. Quando você passa a comer alimentos mais frescos e in natura, você diminui a ingestão de alimentos processados. Procure tê-los como base das suas preparações.
- Fortaleça a sua imunidade através dos alimentos, e não com polivitamínicos. Novamente, o consumo variado de frutas, vegetais coloridos e legumes favorece a imunidade e a produção de energia, descartando a necessidade de tomar os suplementos vitamínicos. Essas cápsulas oferecem mais do que 100% das necessidades diárias nutricionais. Logo, a adição de suplementos ao que normalmente é ingerido através da alimentação levará à excreção de boa parte dessas substâncias pelo rim, podendo favorecer a formação do cálculo. Fique atento à cor, à quantidade e ao odor da sua urina. Os casos que demandam suplementos devem ter a supervisão de um profissional adequado.
- Se você é praticante de exercícios físicos, fique atentos à hidratação e ingestão correta de energia. Durante a atividade física, a necessidade de água é aumentada, e deve ser acrescida à necessidade de hidratação diária. Esportistas que não possuem o hábito de se hidratar com água e fazem uso frequente de energéticos, suplementos pré-treino e repositores hidroelétricos aumentam a ingestão de sais minerais, e consequentemente, terão urina mais concentrada, favorecendo a formação de cálculo. Muita atenção a esta situação! A sede é um sinal de desidratação! Isso significa que podemos estar em processo de desidratação em momentos do exercício e nesse caso a hidratação irá repor o que já está faltando, e não suprir a necessidade de maior hidratação. Portanto, evite deixar para beber água só quando tem sede. A prática de atividade física deve acompanhar ingesta hídrica sempre!
Na prática, vemos que a recomendação de uma alimentação saudável, equilibrada, menos processada e rica em alimentos naturais não deve ser associada somente ao peso corporal. Hábitos alimentares de boa qualidade favorecem muito diversos aspectos de nossa saúde, e cada vez mais isso é comprovado pela ciência. Lembre-se disso quando estiver escolhendo os alimentos que coloca no seu prato! Alguns cuidados podem fazer uma grande diferença para a saúde, principalmente, em longo prazo!
Texto escrito por Inarí Ciccone. Nutricionista e Especialista em Obesidade e Emagrecimento pela UNIFESP e Mestranda em Ciências Médicas na FMUSP, Divisão de Urologia. Atua em consultório com ênfase em Saúde do Homem, Doenças Crônicas Não Transmissíveis, Infertilidade Masculina e Patologias Urológicas, além de Nutrição Esportiva.
http://www.doctoralia.com.br/medico/ciccone+inari-1484546
Bibliografia Consultada:
- AUSTRALIA. Diet and kidney Stones from Dietitian/Nutritionists from the Nutrition Education Materials Online, “NEMO”, Queemsland Governament. 2017.
Disponível em:
<https://www.health.qld.gov.au/data/assets/pdf_file/0024/151863/renal_kdnystones.pdf>.
Acesso em:11/09/2017
- TAYLOR, E .N. et al. DASH-Style Diet and 24-Hour Urine Composition. Clinical Journal of the American Society Nephrology, 2010; Vol.5: 2315-2322.
- GREGER, Michael. Treating kidney Stones with diet. MD FACLM. 2017
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<https://nutritionfacts.org/2017/06/27/treating-kidney-stones-with-diet/>.
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- PACHALY, M. A.; BAENA, C. P.; CARVALHO, M. Tratamento da nefrolitíase: Onde está a evidência dos ensaios clínicos? Curitiba. Jornal Brasileiro de Nefrologia; 2016, Vol.38(1):99-106.