Cada vez mais se encontra no consultório indivíduos que tenham achado, incidentalmente, durante a realização de exames de ultrassom de rotina, a conhecida “microlitíase testicular” (MLT), ou pequenos cálculos no interior dos testículos. Isso acaba sendo bom de uma determinada forma, pois só encontra a microlitíase testicular o indivíduo que foi examinado e passou por exame ultrassonográfico, o que mostra que mais e mais homens vêm apresentando preocupação e cuidados com sua saúde.
O QUE É MICROLITÍASE TESTICULAR?
A primeira questão é entendermos bem o que é a microlitíase que aparece nesses exames. Microlitíase nada mais é do que a presença de pequenas estruturas feitas de cálcio que se localizam dispersas por todo o interior dos testículos, mais precisamente, no interior dos pequenos túbulos que os compõem (o interior dos testículos não é maciço como muitos imaginam, mas composto por um verdadeiro enovelado de minúsculos tubos, dentro dos quais se formam os espermatozoides). Ninguém sabe exatamente como e quando esses pequenos “cálculos” se formam. Sabemos, no entanto, que essa condição não é rara, e que algo entre 0,6% e 6% dos indivíduos do sexo masculino podem apresentá-la. Sabemos, também, que a microlitíase não causa sintoma algum, não dói, não altera a potência do indivíduo e não causa nenhuma alteração perceptível ao exame físico, ou seja, não conseguimos percebê-la simplesmente examinado os genitais. Só conseguimos identificá-la e acompanhá-la a partir da realização do exame ultrassonográfico.
Mas a questão imediatamente levantada é a seguinte: já que não existem sintomas, quais problemas um homem pode ter por conta desse achado? Algumas condições são relacionadas com microlitíase, sem haver necessariamente relação de causa e efeito. No entanto, como são situações que podem caminhar juntas, sempre que encontramos microlitíase, devemos nos lembrar de pesquisá-las. As mais relevantes são a subfertilidade e a maior chance de ocorrência de tumores testiculares.
Quando encontramos as calcificações testiculares ao ultrassom, não devemos entender que há algo de errado acontecendo, mas sim que há uma necessidade maior de se manter atenção e cuidados médicos regulares. Isso é particularmente verdadeiro se existir outro fator que aumente as chances de doenças testiculares, como tumores testiculares na família, problemas na descida testicular, necessidade de cirurgia de fixação testicular ou até mesmo volume testicular reduzido. Ou seja, é fundamental que pessoas que tenham esse achado ao ultrassom tenham, também, uma avaliação médica cuidadosa. Ressalto que não é correto afirmar que ter microlitíase causa uma dessas condições. O mais certo é entendermos que aquilo que eventualmente causa essas condições (que são, em geral, causas genéticas ou ambientais que levam a algum tipo de agressão ao testículo), também, favorece o aparecimento das imagens cálcicas que encontramos no ultrassom. Se pensarmos assim, fica fácil entendermos que não existe preocupação em retirar as calcificações: elas só servem de alerta para prestarmos uma atenção maior do que habitualmente prestaríamos e não causarão dano por sua simples presença.
A maior preocupação das pessoas que encontram microlitíase em seu exame de ultrassom é, sem dúvida alguma, a maior chance de ocorrência de tumores testiculares. Muito se discute sobre isso, e essa preocupação é pertinente. Estudos recentes e bem-realizados mostram que portadores de MLT têm 12 vezes mais chance de desenvolver algum tipo de tumor testicular do que indivíduos sem MLT. No entanto ninguém ainda foi capaz de comprovar que a MLT é causa direta ou fator de risco para o surgimento desses tumores. Sabemos apenas que são condições que caminham juntas. Os mecanismos pelos quais a MLT se relaciona com os tumores testiculares são ainda muito pouco compreendidos. Em vista desse maior risco, é importantíssimo que homens com esse achado de exame sejam seguidos periodicamente, principalmente se houver fatores de risco adicionais em seu histórico médico.
O especialista poderá auxiliar, tanto executando exames de acompanhamento como orientando quanto às reais chances de risco e à técnica e pertinência do autoexame testicular, que pode e deve ser feito por todos os homens. O objetivo é que os homens, assim como já fazem as mulheres quando orientadas corretamente por seu ginecologista no que se refere ao autoexame das mamas, eduquem-se e saibam examinar a si mesmos. Ao aprender a realizar o autoexame dos órgãos genitais, os homens estão reduzindo as chances de deixar de identificar um problema precocemente, exatamente quando as chances de cura são altíssimas!
Fontes:
Richenberg J, et al. Testicular microlithiasis imaging and follow-up: guidelines of the ESUR scrotal imaging subcommittee. Eur Radiol (2015) 25:323–330
Wang T, et al. A Meta-Analysis of the Relationship between Testicular Microlithiasis and Incidence of Testicular Cancer. Urol J. 2015 Apr 29;12(2):2057-64.
Dr. Guilherme Leme de Souza